O mistério do Bacharel
Um enigma continua a desafiar os historiadores nesta chegada do Brasil aos seus 500 anos. Quem era a misteriosa personagem, testemunha e participante dos primeiros tempos de nossa terra, que aparece nos documentos históricos apenas sob a alcunha do "Bacharel de Cananéia"?
Entre outros fatos relevantes, o "Bacharel" esteve ligado à fundação de três das primeiras cidades brasileiras — São Vicente, Cananéia e Iguape — e sua chegada, ao Brasil, para alguns historiadores, teria ocorrido antes mesmo do próprio descobrimento. Segundo tal versão, ele veio para cá, enviado pelos portugueses como uma espécie de "sonda" destinada a avaliar as possibilidades da viagem posteriormente feita por Cabral.
Em outra versão, o "Bacharel" seria um "cristão novo" condenado ao degredo no Brasil, que chegou em 1501. Nove anos antes, os judeus haviam sido expulsos da Espanha, terra que habitavam, acredita-se, há mais de oito séculos. Muitos daqueles judeus foram para Portugal, sendo obrigados a converterem-se ao cristianismo. Esses conversos eram chamados de "cristãos novos".
Logo depois do descobrimento, o Brasil tornou-se o destino de muitos "cristãos novos", alguns vindos em busca da fortuna, outros condenados em Portugal à pena do degredo.
Para cumprir sua pena
Já na primeira expedição destinada a explorar o território descoberto, que chegou em 1501, veio uma leva de "cristãos novos" degredados. A expedição, da qual fazia parte o cartógrafo Américo Vespúccio (cujo nome deu origem à palavra América) percorreu a costa brasileira, batizando os acidentes geográficos encontrados. Entre os passageiros estava também outra personagem que viria a se tornar famosa, Cosme Fernandes, ou Mestre Cosme, possivelmente um "cristão novo". Para cumprir sua pena, Cosme Fernandes e outros companheiros de degredo foram abandonados numa região que a expedição batizou de Cananéia e que já viria constar no primeiro mapa do Brasil, feito em 1502.Algumas das primeiras cidades brasileiras tiveram início em povoados habitados por degredados, náufragos, marinheiros fugidos dos seus navios, aventureiros e índios. Antes de atingir a região de Cananéia, a mesma expedição que trouxera Cosme Fernandes, fizera uma escala num povoado indígena para deixar outro punhado de degregados. Ali nasceu São Vicente, considerada a primeira cidade brasileira.
Provocando ciúmes
Cosme Fernandes ficou pouco no seu exílio original. Mudou-se logo para o povoado de São Vicente, casou-se com uma índia e enriqueceu. Sob sua liderança, o povoado também enriqueceu.Entretanto, São Vicente só começou a existir oficialmente em 1532, com a chegada da expedição comandada por Martim Afonso de Souza, que a história registrou como o fundador da cidade. A ascenção econômica de Cosme Fernandes talvez tenha provocado ciúmes e, na ocasião, ele foi obrigado a retirar-se de São Vicente, passando a viver novamente em Cananéia. Para muitos historiadores, Cosme Fernandes e o "Bacharel de Cananéia" são a mesma pessoa. Outros, porém, divergem dessa opinião para identificá-lo, ora com um aventureiro espanhol, ora com tantas outras personagens que vagavam pelo litoral brasileiro nos primeiros tempos da terra descoberta.
De saudade, transformou-se em arara
De concreto, sabe-se que o "Bacharel" era muito rico, tendo ao seu trabalho milhares de índios escravizados. Seria também um grande erudito, daí o cognome. Em Iguape, outra cidade presumivelmente fundada por ele, um acidente geográfico, o "Morrete do Bacharel", preserva sua memória.Numa lenda indígena, o "Bacharel", encarnado como Cosme Fernandes, casou com a filha de um cacique em Cananéia, abandonando-a quando foi para São Vicente. De saudade, a moça transformou-se em arara. Ao voltar para Cacanéia, depois dos muitos anos passados, sem saber da transformação, ele viu uma arara empoleirada numa árvore e matou-a a tiros. Era a mulher abandonada.
Fonte: Almanack Paulistano.
A pessoa de Cosme Fernandes
Friday, 23. January 2009, 17:20
Enquanto que para uns, outro não era senão que o próprio João Ramalho, ou talvez Antonio Rodrigues, para outros não passaria de Duarte Peres ou de Gonçalo da Costa, ou do português Francisco de Chaves, ou ainda de Mestre Cosme, ou Cosme Fernandes, seu verdadeiro nome ainda permanece uma incógnita. O bacharel era um homem letrado, falava bem, pois teria sido formado em Coimbra e gozado de grande prestígio na Corte de Dom Manuel, antes de cair em desgraça e ser degredado para o Brasil. Todos os autores concordam em relatar o fato do seu desterro, deste homem que tornou-se tão importante à historia deste país, e que prestou tão relevantes serviços aos navegantes europeus, fornecendo-lhes os mantimentos precisos e facultando-lhes os meios de entreter relações amigáveis com os habitantes.
Transcrito do original:
Na egreja matriz, havia ha poucos annos um livro de Tombo, aberto e rubricado por Antonio Ribeiro, vigario da villa de Iguape, por ordem do reverendo d. Bernardo Rodrigues Bueno, bispo da diocese, no anno de 1725, em que diz: <>".
Fonte: História de Iguape. (acesse para ler mais sobre essa história)